vezenquando

Sunday, June 29, 2008

Paris

As coisas acontecem tão rápido que não dá tempo. Na última vez estava em primavera, flores, sorrisos, Lyon. Agora o verão chegou com gargalhadas, companhia, sol, cores fortes, saia, cansaço e vinho rosé aberto no supermercado. Medos, dúvidas e inseguranças aliviados com Amy Winehouse atravessando a ponte, amigas novas e conversas boas de descobrir a vida. Fête de la Musique a noite inteira, lyonnais engraçados, máscaras de monstros, yakuza com bebida verde, batuque em associação de negão, suco de melão com jasmim, confissões, descobertas. Depois, mudança de madrugada, 300kg de bagagem divididas em quatro braços, Paris, táxi engraçadão, sol nascendo, o Sena, a Notre Dame, a Torre Eiffel, ahhhh, a torre...

Sensação de casa na Place Monge, malas escada à cima, corre corre corre, Sorbonne, burocracia, euros voando pela janela, vontade de gritar muito quando a vida dá certo e o sol brilha. E, de novo, um apartamento, cozinha sala banheiro e a novidade: cama grande. De brinde no aluguel, parceira nova para o róqui, tão bom quando a gente se dá bem assim com os desconhecidos...

É, Paris no verão beibe, saia curta e pernas machucadas de bater malas para lá e para cá, soldes pela cidade toda, a biblioteca mais linda do mundo para ler livros divertidos e entrevistar autores chatos. Ray-ban old school e Montmartre com amiga tão querida e tão parecida, Stella com alguém cada vez mais longe. Sorvete de dulce de leche e manga, Virgin Radio para a trilha sonora do dia, bar com gente estranha, DJ de boné que também adora Michael Jackson, uau! parisienses gatinhos e, olha! Já consigo fazer jogos de palavras e ironias em francês, ueba!

E aí o Domaine de Saint-Cloud se abre em fogos de artifício e um telão com Bond, James Bond, shaken not stirred, estrelas e aviões no céu limpo. Metrô de madrugada, lotado e barulhento e a certeza de que só as cidades grandes me interessam. Vontade de viver muito, namorar um parisiense doce de olhos azuis na beira do Sena, com o sol que nunca se põe, pontos de exclamação e o verão mais bonito da minha vida...

Monday, June 16, 2008

Nuits sonores

Só escrevo porque não sei fazer música. Se eu soubesse, tudo seria mais fácil, e você seria um refrão simples e divertido. Eu faria uma canção com uma batida eletrônica toda sofisticada em meio a umas guitarras toscas e um baixo para falar da gente. Para dançar loucamente, para ser feliz, para ser um pouco superficial, mas nem tanto. E a letra seria em inglês, claro, e com sotaque britânico, porque sabe, existem coisas que só funcionam nessa língua. E haveria um verso em francês, tipo Ooh la la ou Bah non, tu fais quoi ce soir? blablabla. Porque aí eu lembraria para sempre do seu jeito rápido de falar, todo cheio de gírias, todo piá de 20 anos, todo responsável por agora sim eu descobri que francês é uma língua tão bonita. Esse tom grave, esse sorriso limpo, essa vontade de viver tudo-agora-ao-mesmo-tempo.

Aí quando as pessoas escutassem a canção elas poderiam ver vodka e suco de laranja de madrugada na beira do rio, com frio e cães de guarda nos espiando... um jeito bonito de fazer anéis de fumaça com o cigarro, uma olhar direto sob a franja castanha. E pela alternância dos maiores e menores ia aparecer alguma coisa como alguém vindo de longe para me levar para casa, um longo caminho rumo à. E depois viriam notas de risadas em silêncio, gritos abafados, sustos, descobertas, medo, lembranças de um sotaque estrangeiro forte quando alguém fala “mentira” bem devagar.

E para acabar não teria aquele plam! da bateria, assim, acabou terminou. Seria mais para inesperado apesar de previsto, a letra acaba junto com a música, meio... meio mistura de Hot Chip com Gossip, meio standing in the way of control. É... pensando bem, seria assim mesmo, gritado, fim de festa, intenso, cheiro de álcool e cigarro, restos de seda e vinho na sala. Sensação boa de conforto nesse mundo conhecido de gente jovem, apartamento pequeno, cama bagunçada, livros amassados, cartazes roubados, copos espalhados pela casa e adeus para nunca mais. Acordes de uma sensação esquisita quando o dia nasce. E uma agulha dizendo que é só isso, acabou, mas... enfim.

Então eu colocaria a música na faixa 8 do cd, aquelas que falam de amor, meio melosa, meio coisa de menina, mas, mesmo assim, gruda na cabeça porque é verdadeira e um pouco sentida. Para escutar nesses dias meio nublados quando tudo o que eu queria era um menino bonito que me faz rir. Et c’est fini.