vezenquando

Monday, February 19, 2007

Carnaval

Ela entrou com embaraço, tentou sorrir, e perguntou tristemente - se eu a reconhecia?
O aspecto carnavalesco lhe vinha menos do frangalho de fantasia do que do seu ar de extrema penúria. Fez por parecer alegre. Mas o sorriso se lhe transmudou em ricto amargo. E os olhos ficaram baços, como duas poças de água suja...Então, para cortar o soluço que adivinhei subindo de sua garganta, puxei-a para ao pé de mim e, com doçura:
- Tu és a minha esperança de felicidade e cada dia que passa eu te quero mais, com perdida volúpia, com desesperação e angústia...


(Epígrafe - Manuel Bandeira)

.

Sabe quando é muito cedo, o asfalto ainda molhado de sereno e poucos fantasmas resistem ao sono? Mergulhados no silêncio, alguns carregam penas verdes-amarelas-azuis, pedaços de vida brilhante. Vestígios da noite anterior, infinita, escura, possível. Sabe quando você anda pela manhã clara e encontra pelo chão as purpurinas, confetes e cacos? Se houvesse mar, as ondas levariam promessas, juras, verdades, algumas garrafas, copos plásticos, gritos e sorrisos. E ainda assim você estaria procurando o sol, a calma, dois ou três senões da noite para esquecer. Sabe quando as manhãs de Carnaval te atraem tanto quanto as noites? Quando em vez de suor, samba, cerveja e ressaca, você encontra criaturas do dia e lhes sorri como seus iguais? `

É, esse Carnaval tá estranho...

1 Comments:

At 10:56 PM, Blogger Unknown said...

O carnaval foi estranho.
Ou nem foi carnaval?!

Bom receber sua visita.
Beijo,
Xandão

 

Post a Comment

<< Home