Carnaval
O aspecto carnavalesco lhe vinha menos do frangalho de fantasia do que do seu ar de extrema penúria. Fez por parecer alegre. Mas o sorriso se lhe transmudou em ricto amargo. E os olhos ficaram baços, como duas poças de água suja...Então, para cortar o soluço que adivinhei subindo de sua garganta, puxei-a para ao pé de mim e, com doçura:
- Tu és a minha esperança de felicidade e cada dia que passa eu te quero mais, com perdida volúpia, com desesperação e angústia...
(Epígrafe - Manuel Bandeira)
.
Sabe quando é muito cedo, o asfalto ainda molhado de sereno e poucos fantasmas resistem ao sono? Mergulhados no silêncio, alguns carregam penas verdes-amarelas-azuis, pedaços de vida brilhante. Vestígios da noite anterior, infinita, escura, possível. Sabe quando você anda pela manhã clara e encontra pelo chão as purpurinas, confetes e cacos? Se houvesse mar, as ondas levariam promessas, juras, verdades, algumas garrafas, copos plásticos, gritos e sorrisos. E ainda assim você estaria procurando o sol, a calma, dois ou três senões da noite para esquecer. Sabe quando as manhãs de Carnaval te atraem tanto quanto as noites? Quando em vez de suor, samba, cerveja e ressaca, você encontra criaturas do dia e lhes sorri como seus iguais? `
É, esse Carnaval tá estranho...
1 Comments:
O carnaval foi estranho.
Ou nem foi carnaval?!
Bom receber sua visita.
Beijo,
Xandão
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