vezenquando

Friday, May 15, 2009

Steady, as she goes

É quase sempre assim: quando a vida está meio chateada comigo, eu, que ando muito de ônibus, coloco os fones no ouvido e subo o volume de algum cd que me lembre coisas de boas. Mas às vezes as coisas estão tão chateadas que eu deixo no random mesmo, sabe como é, eu creio na sabedoria oculta da música aleatória. E aí, hoje, entre uma reunião e outra, um Lapa 856R e um Pinheiros, tocam uns acordes que me fazem voltar três anos. Olho o nome, Mondo 77, Festa do Fliper. Tinha esquecido esse setlist por aí em algum lugar... mas antes que eu sorrisse em silêncio e lembrasse que eu era mesmo muito boa no pinball, começa As Curvas da Estrada de Santos, que antes de vir parar no meu ipod se contorcia no rádio-com-síndrome-de-batedeira para animar as reuniões no 51 depois do meu curso de vinhos, e me fazia sempre voltar escoltada prá casa, ai ai ai.

Então fechei os olhos e suspirei por essa época em que fui feliz com plena consciência. O emprego até que estava bem legal, aquele semestre do curso de letras era só Manuel Bandeira e literatura francesa, eu podia pagar um apartamento com quadros na parede num bairro bacana, tinha encontrado o homem da minha vida, estava loucamente apaixonada e tinha esperanças. E tinha também as baladas de São Paulo, Strychniiiiine!!! deixei para sempre Curitiba e cultivei amigos, amigas, o Milo, o Ibotirama, o CB, risotos em casa e macarronadas com molho de tomate fresco. Tinha aquelas pessoas que eu sempre quis conhecer e que de repente começam a me contar coisas aleatórias, como sobre a última edição do livro Guimarães Rosa ou o nome de uma banda nova:
- Hein? (gritando, no meio da pista de dança) Raconteurs?
- Éééé, steady as she goes, pápárápápá!!
Uma sensação boa de estar no lugar certo, na hora certa, com as dúvidas em banho-maria para aproveitar a vida porque os 25 anos passam rápido. E tinha as festas do fliper, onde sempre alguma coisa acontecia e eu morria pelo DJ. Pois é. Abaixa a luz e sobe o som.

Mas passou. E nem tão rápido assim. Começou com a tragédia do fim dos tempos, quem viveu, viu, e aí a vontade de sair correndo foi mais forte e, bota forte nisso, fui parar na França. E, três anos depois, tantas coisas foram e voltaram, não existe mais festa no fliperama, os amigos mudaram, casaram, compraram apartamento, trocaram de cidade, de país, outros não fazem mais sentido e eu, principalmente, não sou mais a mesma. Mas aquelas questões que atormentam a vida são quase iguais, no mesmo lugar, em frente à mesma noite num andar baixo em meio aos prédios. E aí eu penso que basta o mundo girar um pouco, um milímetro que seja para tudo se encaixar em perfeição de novo... find yoursef a girl, and settle down, live a simple life in a quiet town...

7 Comments:

At 5:35 AM, Anonymous juvs said...

essa vida de andar de ônibus... coisas que só o bilhete único faz pela gente... hahahaha

 
At 8:00 PM, Blogger Maikon Augusto Delgado said...

Gosto do teu jeito de escrever...

 
At 12:57 AM, Blogger Rita Loiola said...

Eba!

 
At 5:25 AM, Blogger Alex Gruba said...

massa esse texto, dona Rita.
ainda mais pq eu ando de busão e é isso aí mesmo, vida maluca e divertida!
beijo.

 
At 7:38 PM, Blogger Priscila Lopes said...

Vim conhecer tua escrita. Falta agora conhecê-la ao vivo.

A galera do XXI POETAS DE HOJE EM DIA(NTE) estará no Bar do Batata sábado, às 19h30, para um coquetel de lançamento da coletânea.

Mais informações em nosso blog.

Apareça!

 
At 12:16 AM, Blogger Eleonora said...

s e n s a c i o n a l

 
At 1:53 AM, Blogger Mariana said...

rita, me emocionei com esse seu post. sinto exatamente a mesma coisa, uma saudade melancólica do tempo em que tudo parecia sob controle, quando sabíamos exatamente do que gostávamos (basicamente do milo), quem éramos e quem queríamos ser. por outro lado, não saber de mais nada não chega a ser ruim também.

 

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