vezenquando

Tuesday, August 04, 2009

Cadernos de viagem - França

Então eu fui buscar certezas. Procurar as lembranças, ver se elas eram reais ou apenas coisas mais ou menos adocicadas pela saudade. Tentar enxergar o lugar com exatidão e decidir. Mas aí, quando o avião desceu naquele aeroporto tão conhecido eu esqueci tudo. A língua estrangeira saiu primeiro aos engasgos e depois fácil, simples, minha. As placas indicando périphérique e centre ville pareciam simplesmente me levar para casa. E no banco ao lado, dirigindo um pouco tenso e muito cansado, alguém que me recebia como se estivéssemos sempre juntos. Depois veio o gosto de chá, brioche e geléia, o sol límpido e a cidade mais bonita do mundo me cumprimentando com um sorriso mudo, como se eu nunca a tivesse abandonado.

E depois veio muito sol, a torre linda linda linda, uma pane no carro e uma noite no meio do interior profundo da França. Muita tensão, um casamento de noiva serena e noivo doente, primos caindo na piscina e tios felizes se acabando na pista. Longos almoços com 3.500 pratos, muita cerimônia prá comer, cansaço, brigas e água azul azur, praia de pedrinhas que fazem um mal danado para os pés. Família, família, risadas e medos, como é que a gente vai fazer para não ser infeliz assim? Ameixas, abóboras, tomates, foie gras e um lago calmo numa cidade que não existe.

E também teve amigos que me ajudaram a ver as coisas como elas poderiam ser, mudar as lembranças e dar novos sentidos para as praças, os cafés, as ladeiras de paralelepípedo. Miró, sempre ali jogando vermelho na minha vida, mudando as coisas, mostrando sóis que nascem sorrindo. Fogos de artifício para iluminar as noites, chuva de granizo, ai!, um parque no bout du chemin e uma rua que nunca dorme, hey, mademoiselle! E aí eu fui feliz de não me aguentar e infeliz o suficiente para atravessar a Champs Elysées em prantos, soluçando alto de tristeza de estar triste em Paris. Mas é que a vida é feita de coisas reais, né, sua tonta, simplinha mesmo, e segue assim de qualquer jeito, como se ela fosse uma coisa qualquer, mesmo nos cenários de filme...

E de certeza mesmo, só aquele olhar, um abraço bom de não se sentir sozinha nunca mais, um desamparo tão igual ao meu e um pavor de se jogar, e se der errado, tudo de novo? E de exatidão, nada nada, além dessa sensação boa de conforto, como se eu nunca tivesse deixado aquele calor de tarde comprida, vento morno e mãos dadas.

3 Comments:

At 9:23 AM, Anonymous Tais said...

Ah, então vc ta aqui na França! Vc ta bem? Qualquer coisa, estou aqui!
Beijossss

 
At 3:55 AM, Anonymous juvs said...

faz favor de responder scrap...

 
At 6:02 PM, Blogger João Castelo Branco said...

http://casadojoao.blogspot.com/2009/08/pra-rita.html

 

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