vezenquando

Sunday, August 06, 2006

Lies! You're telling me that you'll be true...

Além da premonição, as mulheres da minha família têm outro dom: desvendar segredos. Minha avó, quase surda, meio cega, sempre sabia o que estava acontecendo com todo mundo – especialmente quando ninguém lhe contava nada. Ela tinha certeza de que o filho havia se separado da mulher, sabia por que a caçula deixou de ligar, quando e onde o mais novo encontrou fulana ou ciclana, soube quando meu avô iria desaparecer. Já tão velhinha e doente teve certeza, sedada e no hospital, que ele estava no corredor ao seu lado, em outra maca. E ninguém havia lhe dito uma palavra sobre o assunto.

Minhas tias, as quatro, sempre souberam o que o futuro lhes reservava. Com um olhar, descobriram qual era o homem reservado para elas. Souberam quando foram traídas. E perdoaram.

Criança, eu não entendia por que minha mãe sempre aparecia nos momentos em que faria algo escondida. Como ela sentia que eu estava apaixonada, descobria que havia chorado, ficado nervosa, visto aquele menino. Adolescente, tentei contar algumas histórias para passar mais tempo de bobeira na faculdade ou ir ao cinema com alguém que não era a minha amiga. Tudo em vão. Quando chegava em casa, ela olhava nos meus olhos e tinha certeza. Só pedia para que eu dissesse a verdade. E confirmasse o que ela já sabia.

O que eu nunca tinha percebido, é que herdei o dom. Quando meu irmão mais novo se apaixonou e começou a contar as mesmas historinhas que eu um dia tentei passar adiante, ria da ingenuidade dele. Como é que ele achava que alguém ia acreditar no que estava contando? Eu e minha mãe só o olhávamos, atônitas. E desculpávamos. Depois de tantos anos de convivência, meu pai desistiu de tentar fingir qualquer coisa. Fica mudo. E custa a perceber que nosso olhar é de cumplicidade.

Para mim, é muito fácil reconhecer um homem pilantra, uma mulher dissimulada. Sei quando tem outra no meio da história, quando as palavras são verdadeiras ou não. Basta um detalhezinho sem importância. Quando comento minhas divagações com alguém, normalmente a pessoa cai risada. “Rita, você tá é ficando doida.” Dias, semanas, meses depois, vem a confirmação.

Mas tanta terapia, tanto acredite no que digo e alguns enganos – toda mulher, mesmo na minha família, é falível – me mostraram que, às vezes, vale à pena acreditar que estou errada. Que, vá lá, ele não respondeu a mensagem porque não viu, não porque estava saindo com outra menina. Sumiu no fim de semana porque... ah, porque também tem família e não porque está indo ver aquela mesma menina. Não me chama pra sair porque é tímido mesmo, não porque desinteressou. Naquele dia, não atender ao telefone não foi uma mentira deslavada, ele realmente esqueceu o celular no bolso da calça. Parou de responder os emails porque está mesmo muito atarefado lá na gringolândia. Não porque encontrou uma namorada nova... Que minha vontade de não sair de casa nesta noite é preguiça. Não o pressentimento de que vou ver algo que não devia. Cada pessoa tem um jeito de gostar diferente, eu é que sou muito pessimista.

Mas o pior, o pior mesmo é que normalmente eu acerto. E só preciso que alguém me fale os detalhes da história que eu já sei. Para que tudo fique bem de novo. Aliás, como qualquer mulher.

2 Comments:

At 2:09 PM, Anonymous Anonymous said...

É, o erro de todas as mulheres é, apesar da pulga atrás da orelha, acreditar pensar que daquela vez era diferente...

 
At 8:17 PM, Blogger Patrícia said...

Tostines vende mais porque é fresquinho, ou é fresquinho porque vende mais?

 

Post a Comment

<< Home