Historinhas - cap. 2
Porque tinha que ser ele, porque tinha que ser eu. Porque tinha que ser alguém com sorriso gostoso, cara de menino e quadros na sala. Porque tinha que ter caminhada à noite, um ou dois jantares, segredos, ah, mas você também tem amigos em Curitiba? Porque tinha que assistir ao cinema no domingo, porque tinha que ter alguma dificuldade, mas também nem tanta. Porque tinha que encontrar na cozinha um pouco de sálvia e alecrim, na mesa Blur e Blues Explosion, nas paredes o suficiente para eu não querer ver, no olhar algo que me foge. Porque tinha que ser assim e eu não sei se assim não está certo. Porque tinha que ser eu, porque tinha que ter dúvida e algumas lágrimas. Porque tinha que existir viagens longas, encontros às quartas, confissões que escapam. Porque tinha que fazer algumas reclamações, andar de mãos dadas e pular pelas indecisões. Porque tinha que ter fundo musical, uns temores, um telefone mudo. Porque tinha que beber vinho e algumas mentiras. Porque tinha que existir noites intermináveis, saudades ao vê-lo virar as costas, sensações de nunca mais. Porque tinha que ter ausência. E porque tinha que visitar lugares e estrelas que não conhecia. Porque tinha que ter sorvete de morango e doce de leite, histórias e mais histórias, porque tinha que ter calma ao encontrá-lo e ansiedade um pouco antes. Porque tinha que ter fins de semana quase perfeitos, um pouco de espanhol, en espera de que vuelvas, palavras em francês, je pense a toi, uns suspiros, um Almodóvar e um Wong-Kar-Wai. Porque tinha que sentir a magia de cantarolar mesma música que tocava silenciosa na minha cabeça, you can get it if you really want. Porque tinha que escorregar em algumas epifanias de cego mascando chicletes ou pegando metrô. Porque tinha que ser ele e porque tinha que ser eu. Porque tinha que ter mais leveza que profundidade. Porque tinha que ter madrugadas longas, sol entrando pela janela de manhã. Porque tinha que me fazer acreditar. Porque tinha que rejeitar o final feliz. Porque tinha que ser ele. Porque tinha que ser eu.
5 Comments:
ê lá iá...
lado negro da força não né, flor?
Hahaha. É texto antigo.
Eita, e tem coisa mais leve que final feliz?
por que?
Nossa...quantos "porques"...rs
Gostei do texto
Beijos
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