vezenquando

Tuesday, December 04, 2007

Asas do desejo

The colours fade to grey
And I'm left with black and white
Don't know why I try
To fight with what is right
The truth is on our lips
It looks like time to tell
But you know I could be wrong about that as well
I thought a happy ending was more or less assured
I thought a little warmth could win the war
I'm wrong about everything
I think that I can sing
And when you hear the song
You'll wanna sing along


Em preto-e-branco, o sol nasceu. Uma noite de insônia, de lagrimas secas, o amanhecer angustiante, descolorido. A chuva fina, branca, tons de cinza no mar, o coraçao duro, preto, e a frase que ia e voltava, "entao é meu beijo que diz 'eu te amo' que é demais pra voce?". A noite negra sem estrelas, o dia cinza. "É o meu abraço 'sou sua' que você nao quer?" Preto-e-branco, o primeiro amanhecer sem cores. Ela zonza, desbotada. O principio de um tempo sem vermelhos, azuis, amarelos. Fade out em cinza, aquele homem se foi.

E vieram outros. E a mao que buscava calor aprendeu a mudez; os labios frios, o silêncio. Para sempre. No olhar o medo: é demais? Desaprendeu as cores. "Seus olhos sao azuis?" Nunca mais soube sozinha. É perigoso assim tao perto, machuca. Doi, quebra em caquinhos, rouba a cor do mundo. Verde desmaiado, rosa-palido, um mundo de palheta aguada. Dos seguintes, nao se lembrava do andar, a curva dos ombros, como era mesmo a sensaçao de abraçar e chegar muito perto? E os seguintes foram muitos. Começou a acreditar que tinha pouca memoria recente. Nao lembrava quantos. Nada podia ser tao sério a ponto de devolver as cores do mundo. Os tons das emoçoes.

Entao ela aprendeu a subir muito alto e a olhar o mundo de cima. Falava muito, sem sentir. So nao sabia por quê. Nao sabia, estatua bege, que nao tinha perigo. Entregava-se a qualquer coisa pra lembrar como eram as agulhas, que gosto tinha o vermelho. Ia aos bares mais escuros, os teatros mais vazios, os menores cinemas. Muita luz, nao, obrigada. Detestava Wim Wenders, David Lynch, aquelas narrativas sem sentido, comoassim fotografia das emoçoes.

Até que.

Até que um dia ela senta na janela do sexto andar e sente dor. Em preto-e-branco, lembra. Até que ela cansa de chorar lagrimas secas. Até que ela começa a sentir medo de aviao, assim de repente. Até que ela atravessa um mar nessa maquina sem chao, la embaixo a agua, voumorrervoumorrer. Até que ela coloca o pé em terra firme, engole o medo, perde a fala e aceita o abraço. Até que faz sol atras do mar. E ela se entrega, depois de tanto tempo, de verdade. Olha nos olhos e sabe: castanhos. Até que ela vê a mao que procura a sua, estica o braço e ele responde. Laisse toi aller. Até que ela abre os olhos e ve o mundo transformado num puteiro, vermelhos azuis amarelos luzes luzes perfumes vinho quente cerveja choca rosa lavanda macarron chuva terra molhada margem de rio lama roxo verde éclatant berrante gritante tudo agora ao mesmo tempo. E ela grita, fade in furta-cor. Até que ela chora com a cena do anjo que caiu do céu para sentir o gosto do sangue. Para tomar um café e descobrir a diferença entre o ocre e o marron, o laranja e o amarelo. E ela chora e ela sorri e ela nao sabe o que sentir e no meio da aula daquelas linguas estranhas, alemao, francês, ela entende tudo. O anjo e a trapezista. A voz grave, Nick Cave. Num segundo, ela descobre que nao sabe mais de nada. Que vai ter que aprender tudo de novo. Adolescente, descobrindo o mundo com fome. O espectro solar dos sentimentos. Colorido, chocante, assustadoramente bom. Daqui a pouco, ela aprende a amar.


7 Comments:

At 7:48 PM, Anonymous Anonymous said...

tão bom saber que vc está feliz!!!!
dê notícias!!!
saudades enormes!!!
beijos.

 
At 11:23 PM, Blogger Eleonora said...

pooouuuuurrrraaaaa!!!! publica...fã vc jah tem!

 
At 10:40 PM, Blogger Mariana said...

que coisa linda...
o arco-íris é justamente a combinação do sol e da chuva.

 
At 1:39 AM, Blogger Mari Carpanezzi said...

um dia, mas ela já aprendeu a amar, né?
linda, você, dona ritinha.

 
At 2:53 PM, Blogger  said...

que fofo seu comentário no meu texto do haja saco, vi só agora!


é sobre um texto velho meu do blablablog sobre orkut? hahaha! se for, vc tem uma memória melhor que a minha!

:)

adorei, beijos.

 
At 7:18 PM, Blogger Unknown said...

Mas ainda conseguirei transformar meu dia em inferno.

 
At 10:28 PM, Blogger Patrícia said...

E esse monte de cores depois das nouvelles de hoje? Quero ver o próximo post... Beijos

 

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