vezenquando

Monday, February 11, 2008

Cadernos de Viagem - Lisboa/Londres

Porque você está em tudo. Na alegria das coisas que dão certo. No sol que esquenta, em pleno inverno. No sotaque português, na ingenuidade de rir muito, por nada. No sorriso que me recebeu em uma casa com sala, televisão, DVDs, vinho e comida barata. No fim de cada frase desses lisboetas, quando explodia em gargalhadas. Lembra tanto o seu bom humor bobo. No céu azul bem azul, promessa de que tudo vai ser melhor. Como o ponto de fuga que você foi na minha vida. Meu suspiro bom, feito bolo quente, pastel de Belém fresquinho, conforto. Você está ali no pôr do sol em vermelho que se abriu em mágica no mirante da Graça. No meu pensamento pensando em deixar uma frase "estive aqui" porque, quem sabe, daqui a uma semana você veria a mesma paisagem. Entre azulejos e paralelepípedos, no macarrão que consegui finalmente cozinhar, em cada porta do Bairro Alto à noite, pouca luz e muita gente. Seu olhar ali me espiando, enquanto voltava caminhando de madrugada, meio tonta, tão feliz. Quando abri os olhos, revi o Atlântico e a garganta apertou e senti a areia nos pés e lembrei do seu abraço que também parece casa. Seu sorriso claro ali, atrás das pedras do Castelo dos Mouros, escondido no meio de citações de Fernando Pessoa e Eça de Queirós, nos acordes do Madredeus que escapam em cada passo à beira do Tejo. Você na vontade de cair no abismo da novidade, nos pratos gigantescos do almoço, no calor, no Hallelujah no violão, no Smiths tocando no escuro. No café da manhã em paz, tostas e ovos, tempo, amigos novos que chegam e se vão em uma semana. E quando cantei bem alto na rua e tive vontade de correr até perder o fôlego, vi seu vulto. E quase paro de sentir falta.


Porque você está em tudo. No inesperado, nas coincidências que parecem predestinadas. No pôr do sol que se abriu em um milhão de cores do alto da London Eye, atrás do Big Ben. No tempo ameno que me recebeu em uma cidade tão grande, meio cinza, feito aquele dia em que nos achamos. Nas camisetas engraçadas, na capacidade dos britânicos de rir de si próprios e tomar com violência seus pints de cerveja. No sorriso de lado, no olhar de canto dos homens no tube, mind the gap. Lembra tanto o seu humor misterioso, o enigma que atrai. Você ali na Couvent Garden toda descolada, pelos brechós de Bricklane em que toca Velvet Underground, nos muros grafitados na beira do Tâmisa cheirando a felicidade agitada e fosforescente. E sua voz me chama pra vida, mostrando o que está escondido dentro de mim, pronto para desabrochar. Como a epifania que você foi em minha vida. Minha parte destemida, feito vídeo de formiguinhas carregando confetes de carnaval. Você fica no meu pensamento pensando em como vai ser a noite, esse mundo de oportunidades que me chama, e imagino a sua Oxford Street quando atravesso a porta ao lado do metrô. Entre Lichtensteins e Warhols, fotografias preto-e-branco e instalações panfletárias, na minha súbita paixão por Pop Art e na vergonha de falar oi pra a Marieta Severo que passou ao meu lado. Seu olhar me espia enquanto dou risada na Tate Modern e procuro os passarinhos-triângulo do próximo Miró, artchista que adorou o terceiro andar da galeria cheirando a tinta. Na lembrança dos cavaletes que um dia usei, na textura dos acrílicos coloridos no papel, no meu amor por quadros e fotos e imagens que falem do que sinto, vejo sua mão levando a minha com paixão entre os sprays e rabiscos depois do batente da porta. Seus passos estão em Camden Town, por roupas e tênis verde azul xadrez, escutando Clash e saindo à noite para descobrir que continuo uma adolescente, who loves you inside and out, backwards and forwards with my heart hanging out. No cheiro de praia depois da Tower Bridge, nos meninos de skate luzes frenéticas eros sujeira coca cola picadilly circus. E quando senti muito frio mas mesmo assim voltei cantando de madrugada e enfrentei pubs e tive noites infinitas com vontade de me acabar na pista, vi seu vulto. E quase paro de sentir falta.

5 Comments:

At 6:21 PM, Blogger Patrícia said...

Eh, Dona Rita... heheheh

 
At 6:49 PM, Anonymous Anonymous said...

o texto é tão bacana, que o amor se transforma quase num guia turístico. Boa, Rita.

 
At 12:15 AM, Blogger As Obnubiladas said...

Aperto no coração lendo você falando assim de Londres...

 
At 2:33 AM, Anonymous Anonymous said...

que pedante! por que tanta citação?

 
At 3:20 PM, Blogger Rita Loiola said...

porque eu sou pedante, ué!

 

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