vezenquando

Friday, March 14, 2008

Vento

Tenho pensado tanto em você que às vezes penso que enlouqueço. Cristal fino perfurando tudo, rasgando minha vida em fases. Pedaços de você em mim, não sei mais o que é real, o que inventei, tanto tempo de ausências e silêncios. Sua voz embaraçada em meus pensamentos, o olhar interrompendo minhas certezas, os ombros me abraçando invisível. Obsessão lilás quando acordo, boa-noite em escuro ao deitar. Penso tanto mas tanto que às vezes é quase real e imagino se aí tão longe você não me escuta gritando, no meio da noite.

Café? Por favor. E então, tudo bem? Sim, e você? Também… mas você está com uma voz estranha… tudo certo? Sim, tudo em ordem, por quê? Sei lá, esquisito. Ah, não ando dormindo muito, acho que o vento levou embora meu sono, minhas esperanças e mais tudo… mas, diga lá o que aconteceu. Então, foi assim, ele chegou e eu disse que…

E eu penso, penso tanto em você e guardo só para mim. Fico muito quieta e sorrio sozinha, quando consigo sorrir. Às vezes me entrego e lembro de noites e céus coloridos, uma noiva na porta da igreja, óculos escuros de esconder o rosto, colchões abandonados na rua, iogurte de morango, coisas bobas, tão claras, e outras que machucam um pouco que penso penso penso mais ainda nelas para ver se desisto de pensar assim tanto em você. E aí enumero todas as dores, todos os espinhos que já retirei e por mais que queira a cicatriz não dói tanto. Me apego unhas dentes e coração a todas as vezes que você teve vontade de sumir de mim, às imagens e pensamentos oferecidos para uma outra pessoa, todos os alguéns que apareceram antes e depois e você achou que era para sempre. E lembro que nunca estive nessa lista de infinitos, porque passei tão leve, pétala ao vento, e fui embora sem pedir nada. Mas uma vez você falou que gostava tanto de mim. Depois disse que o tempo dava jeito nessas fotografias pregadas na lembrança. E, no fim, acreditei.

Queria dizer alguma coisa para te fazer ficar bem. Mas não sei, não sei mesmo o que te dizer. Fim de amor é uma tragédia. Só posso ficar aqui e dizer que gosto tanto de você que queria arrancar a dor com a mão. Mas o que posso fazer se não sei nem o que fazer comigo? Não tenho certeza de que essa dor passa, desconfio que no fim você sairá melhor. Não sei qual o saldo positivo, além das lembranças. Estou tão cansada, mas te estendo a mão. Sempre aqui.

E nesses dias em que você não me deixa eu faço contas e planos desesperançados. Procuro fotos escondidas, palavras, pistas, qualquer coisa, simpatia, amuleto, envio mensagens com um sopro. Caprichosa, queria que você visse meu mundo todo te esperando. Pinto ele sem graça e despedaçado para dizer que a cor sumiu depois que você foi embora. Olho de novo saias e pulseiras, me preparando para se você chegar. Lembro que gosto de você desde antes de te conhecer para até o fim dos tempos. Que faria tudo, deixaria os doces de lado, conheceria novas músicas, inventaria molhos para a salada, só por você. Peço a Deus um milagre que chegue até seus ouvidos e diga que penso tanto em você, gosto tanto de você que te amo.

… era o fim. Vixi. É, não dava mais, acho que acabou o amor, não sei mais quem é aquela pessoa ao meu lado. Ah. Acho que é melhor assim, cansei de não confiar, de viver sem certezas, sem dormir tranquila. Entendo... É, mas, sabe, fica um vazio, não sei bem o que fazer dos meus dias, tudo acontece tão devagar...

E depois tudo segue o mesmo ritmo. Fico muito cansada e um pouco triste, o milagre não vem. O dia amanhece em silêncio, imerso em algodão, sem chuva. Desisto. Decepcionada, visto o luto, ritual fácil. Imagino um mundo paralelo onde você nunca tenha existido, a única maneira de te desgrudar de mim. Ligo o som muito alto para não ouvir meus pensamentos e esqueço as nostalgias, mato as esperanças, desacredito das pessoas. Afio lâminas e cacos de vidro, para o caso de esbarrar em você e perceber que o tempo te deixa melhor, longe de mim. Depois do exagero, o normal. E corro muito e me engano que é a última vez. Porque, no fim, sempre choro baixinho quando abro a caixa empoeirada com seu nome escrito em letras tão fundas. Eterno, inconsolável.

Estarei sempre aqui por você, ao seu lado, adivinhando suas dores. Queria tanto que você confiasse em mim quando lhe digo que as pessoas vão e vêm, não permanecem. E isso é uma tragédia, mas é assim. Não sei se estamos aqui para sermos felizes, também estou perdida, sem certezas. Mas, por você, e só por isso, acredito.

5 Comments:

At 6:48 PM, Anonymous Anonymous said...

ê... preciso dizer que quem escreve bem é vc... cada vez melhor... volta logo pra gente tomar café e ir ao cinema, vai? estou ficando cada vez mais livre da fflch ;)

 
At 6:48 PM, Anonymous Anonymous said...

ops... faltou assinar: um beijinho, carol.

 
At 3:44 PM, Anonymous Anonymous said...

Ritolaaaaaaaaaaaaaaaaa
saudade de vc.

beijo.
Diego, de Curitiba, ho ho ho

 
At 3:42 AM, Blogger A Better MAN said...

Quando a procuro na memória não encontro nada além de um sorriso, sem fim. Fecho os olhos em silêncio e recordo, fazendo força, de todas as vezes em que a vi. Vasculho caixas velhas por fotos antigas e nos poucos pedaços de vídeo que resistiram ao tempo eu te vejo sorrir. Me concentro nos encontros de ontém e hoje: Santos Andrade e Floresta, o RU. Londres, Sintra, Lisboa, Paris ou Cascais, tanto faz. Quando envoco seu nome sorrio quieto. Lembranças que você deixou.

Abro uma página qualquer vezenquando, procurando no nada o que me encha de ternura. Vejo naquelas bem escritas linhas tudo que o rosto esconde atrás da pintinha. Pobre coração. Nem o Bandeira deu conta de iluminar. Sentado frente a frente com aquele fundo de tela verde, milhares de kilometros distante, sinto vontade de te abraçar. Sem motivo algum, um abraço calado como quem diz "eu também". Muitos meridianos pra cá, me sinto mais próximo de você do que já estive na vida, estranho.

Não sei dizer o que senti quando li este post, mas foi fundo. Foi na alma e deu um nó. Parecia tão real como se tivessem escorrido do meu teclado e disseram tanto pra alguém que podia ser a minha história. Páginas em branco é o que restaram no final, onde muita história deixou de ser escrita. Fecho a página com um nó na garganta, uma lágrima nos olhos e com gosto de quero mais.

Mande notícias. Me apaixonei pela moça que carrega o céu no sorriso e a tristeza no olhar.

;)

 
At 10:04 PM, Blogger Patrícia said...

Sempre volto aqui para reler esse texto. E toda vez eu choro. Saudades, viu? Volta logo para essa terra gelada que fica muito mais sem graça sem você. Beijos

 

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