vezenquando

Friday, May 02, 2008

Cadernos de viagem - Curitiba/Lyon

Começou com um céu azul e chuva fina. Depois virou dourado e se separou em sete cores. Um arco- íris sobre o Rhône dizendo sim. E então vieram as flores miúdas de cor clarinha e esse passarinho cantando ao som de um piano bem leve enquanto o sol se põe em azul. Lyon me avisando que tinha feito a coisa certa. Se o tal do bonheur existe, ele é mais ou menos esse agora.

Porque em 15 dias me assustei com as cores berrantes da Serra do Mar, tomei chuva,vi o sol, aprendi sobre a volta de Saturno, chorei com propaganda tosca da Secretaria de Turismo paulistana, o Masp, aquela língua vermelha no teto do Auditório Ibirapuera, Largo do Arouche, Anhangabaú, ah, Bela Cintra... Nó na garganta, lágrimas, tristeza infinita, casa, caos, correria, família, família, família, perceber um mundo que mudou também, enquanto fiquei distante. Etapas de outras vidas começando, alegria, alegria, alegria infinita, ah, que tensão o novo... A vida às vezes é tão enigmática que não adianta entender. E aí, encontrar pessoas que parece que vi ontem, sou a mesma, mas tudo está tão diferente, ãhn? Aquela janela era assim mesmo? O pôr do sol dessa cor? Esse olhar tão negro? E os sentimentos que sentia mudaram, as certezas foram embora, ah, que frio na barriga o novo.

E só percebi aqui, voltando, o quanto é radical, muito radical, viu, esse negócio de morar fora. Mais ou menos uma Revolução Francesa, queda da minha Bastilha cheia de convicções, com tudo mudando, não sobrando nada, nem meus amores inventados, nem os planos para o futuro, mudanças tão rápidas que nem eu entendi ainda. Um étonnement, uma epifania atrás da outra, ploft, ploft, ploft, pilares caindo, olhos bem abertos para descobrir o que vem depois. E aí muitas coisas começam a fazer sentido, como a sensação de que não pisava na Apinagés há dez anos, em Curitiba há cinco, e essa primavera me recebendo na França dizendo que é assim mesmo que tem que ser. John, Paul, Jorge and Ringo e o Moulin Rouge cuidando de mim e velando minhas manhãs e noites de sono pesado. Pisar nas margens do Rhône e sentir os pés no chão, calor que traz olhares e sorrisos, água calma, cheiro de jasmim, vontade de cantar bem alto na chuva. Gatekeeper seasons wait for your nod. Eu e minha sombrinha amarela, feliz feliz feliz, e sem ter a mínima idéia no que isso tudo vai dar. Entendendo, enfim, quando alguém falou que pode ser egoísmo querer dividir algumas sensações. Há mágicas secretas que só podem ser sentidas.

8 Comments:

At 9:32 PM, Anonymous Anonymous said...

belo relato do "volta pra casa". E as palavras sem ordem acompanham perfeitamente a confusão dos pensamentos. Muito bom.

 
At 12:51 AM, Blogger Mariana said...

que linda, com versinho da Feist e tudo... Aprendi bem recentemente que a gente está exatamente onde deveria estar --do contrário, se mudava logo para outro lugar. Aproveite esse aí que vc conquistou. Deve ser mesmo lindo.

 
At 4:36 AM, Anonymous Anonymous said...

ah, menina... volta logo!!!

 
At 4:45 AM, Blogger A Better MAN said...

Está se tornando repetitivo, mas é fantástico! Parabéns pela revelação, o importante é estar feliz e seguir o vento.

 
At 4:11 PM, Blogger A Better MAN said...

Sempre, mesmo. Minha vida já deu muitas voltas. Muitas delas, nas tardes de Domingo.

;)

É bom te ver feliz.

 
At 4:11 PM, Blogger A Better MAN said...

Sempre, mesmo. Minha vida já deu muitas voltas. Muitas delas, nas tardes de Domingo.

;)

É bom te ver feliz.

 
At 10:06 AM, Blogger Eleonora said...

pois eh, um arco-iris sbe qdo e pra quem aparecer!!!!!!!
simbora curtir o solzaco de lyon!!! agora, com protetores 1000!!!!! hahaha
bjaooooooooo

 
At 7:07 PM, Blogger Mari Carpanezzi said...

Você pertence Lyon, né?

 

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