vezenquando

Friday, December 17, 2010

Do momento presente que se chama amor

Se fosse para guardar uma imagem de você ela seria assim, um colorido de bexigas pelo céu. Leve, bonito, circular e solto no azul. Umas imagens de encontros entre véus e tecidos, flores e frutos, vermelhos e verdes clarinhos de sossego. Se fosse para guardar uma palavra de você ela seria muitas, entre Machados de Assis, Balzacs, Hannahs, Molejões, Freuds, Ferrys, Raças Negras, Brian Enos e Queneaus. Seriam substantivos e adjetivos, improváveis, juntos, belos, com um sentido profundo sobre o que é ser feliz. Seriam frases de encontros, pontos e vírgulas de calma e uns travessões de sobressaltos. Se fosse para guardar músicas, músicas de você, elas oscilariam, marola e molemente, entrando assim, como não quer nada, em um oceano de luzes cortado por riscos pianinho, solfejos de violinos e escalas de sopros, suspiros, sorrisos. Canções que terminam em silêncio e voltam rápidas, alegretto, agudas, sustenidos sobre o fundo de baixos firmes, poderosos, quase completos. E tão ingênuos, pueris. E essas músicas estariam em um filme, porque se fosse para guardar um filme, um filme de você, ele teria muitos retalhos sofisticados, versos pelas calçadas esburacadas, cidade, praia e poesia. Cenas fortes, umas explosões salpicadas de sangue vermelho de amizade, paixão, amor, no caso. Ali e lá uns questionamentos em furta-cor, caleidoscópios de descobertas, aquelas polaroids de vida resumida em uma tela: pretos, brancos, sépias e epifanias. Um cansaço em algum momento, uma tristeza de solidão, uma bailarina linda linda linda e piruetas, uma sexta-feira à noite e futuro que nunca chega. Intervalo, sessão da tarde, doce na geladeira. E, se fosse para guardar... colocar em uma caixa com laços um perfume de você, ele teria a ver com laranjeira e baunilha, um frasco muito bonito de tampa dourada que se abre assim, sem parecer importante. Bouquet perfeito, rosas delicadas, pétalas claras e ferpas de madeira, muitas delas, presentes e sensíveis, fortes e etéreas. Se fosse para guardar você, eu guardaria muitas coisas boas, de maturidade e olhares e risadas de menino descobrindo que é bonito. Mas se fosse para guardar não seria assim e não seria de uma liberdade com ondas de espuma branca porque você é livre, assim como eu, assim comigo. De uma liberdade que vai e vem, que volta e parte, que é verdadeira e plena, que não pode ser guardada. Se fosse para guardar não seria tanta beleza tênue e doce. Se fosse para guardar não seria.