vezenquando

Wednesday, November 26, 2008

Sobre sonhos

Tem dias assim, em que tudo funciona. O cabelo acorda bom, você recebe propostas de trabalho milionárias (tá, tá, de milão, vai, quase igual), a fonte difícil resolve ser simpática, a internet fica rápida, o sol enfim dá as caras, seus amigos de Santa Catarina avisam que estão bem, aquele pensamento naquela pessoa fica mais quietinho no fundo da memória, e aquela outra que você quer que apareça liga no fim da tarde... tudo meio que nem Sunday Morning, there's always someone around you who will call, e ainda é plena quarta-feira (apesar de quarta-feira ser de longe meu dia preferido da semana)...

Tem dias assim, em que tudo funciona. E é possível acreditar que não é preciso lutar pelos sonhos. Eles vão acontecendo, de mansinho, sorrindo luz atrás da quina da parede. Sem precisar batalhar a vida, aquele esforço, ui, para conseguir os objetivos porque, convenhamos, esse negócio de ter metas é coisa de banco. E aí penso que aquela voz que me dizia que era possível virou um conceito, um incentivo que me faz andar para frente.

Tem dias assim, em que tudo funciona. A vida é bela, a felicidade até existe, e vai, quem sabe o amor seja lindo, the many splendored thing, tá, tá. Tem dias em que a saudade diminui, o sono também, o tempero fica certinho, o dinheiro cai na conta, dá vontade de fazer uma tatuagem de flor e coração no braço e a vida é escrita no presente. Tem dias em que tenho certeza de que um dia chego lá sem precisar de tantos machucados pelo caminho. Tem dias assim, de felicidade bobinha, em que tudo, e até meus sonhos, funciona...

Monday, November 10, 2008

I need a fix...

E está oficialmente aberta a segunda temporada de shows do ano.
É, há coisas que não mudam mesmo com a idade...

Monday, November 03, 2008

Letter to Memphis

Todo em pedaços. Você me aparece assim, espreitando em uma esquina, caminhando apressado, dando risada enquanto atravessa a rua. Às vezes, seu olhar está em alguém na calçada ou a nuca se vira descendo as escadas do ônibus. Outras, é o som da voz, que aparece de repente. Frases sem rosto, olhos que não combinam com a boca e o nariz, meio apagados pelo tempo. Todo quebrado, não consigo te resconstituir na minha memória, cacos descompostos. Uma jaqueta muito feia, uns ombros magros, que combinam tanto com você mas não batem com a idéia que quero guardar. Os óculos que vejo presos no nariz de outras pessoas e me pergunto se eu realmente desgosto-gosto disso tudo. Do conjunto ou dos pedaços? E junto aos joelhos finos e à barba escura suas palavras incompreensíveis que esbarram em mim e eu pego nas mãos, acaricio e não sei se guardo para mim ou coloco em cima da mesa para para depois. Não sei se merecem outras palavras em resposta ou se ganham o silêncio. O silêncio, talvez, já que falam de confianças, planos futuros, de coisas bonitas, enfim, essas coisas de amor. Essas coisas distantes, um eco no telefone, uma língua nova, estrangeira. Traduzir assim é tão difícil, mon amour, com essas fatias de você andando por todo o lado, se misturando a pedaços de outros, aos sentimentos difusos, a dissimulações e medos e certezas perdidas.

Uma tristeza assim, quando tenho certeza que não, uma alegria assim assim, quando digo que pode ser, talvez. Uma vontade de esmagar os pedaços todos e construir tudo de novo em outro molde, mais arrebatador e violento, com um barro de vermelho intenso. Mas quando, de repente, os fragmentos se unem em uma imagem clara na lembrança eu quero tanto dizer sim. Sim cor verde de menta, cor-de-rosa de tijolos, rio azul com sol e sorvete. Aceito as frases que tentam passar barreiras, obstáculos, pedras calcadas em medos escuros. Trying to get to you, how I tried to get you... Mas, tão rápido, tudo se embaça enevoado, quebra-cabeça de tempos passados presentes futuros, e reconheço seu gesto fumando devagar um cigarro enquanto espera alguém na porta. E eu fecho os olhos para apagar essa coisa salgada, que parece tanto com saudade...