vezenquando

Tuesday, May 04, 2010

porque o outono é a minha estação preferida em são paulo

Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na minha
vida, inclusive o porquinho-da-índia que
me deram quando eu tinha seis anos

Manuel Bandeira

Existe um momento em que as coisas se desamarram. Aí você acorda muito cedo e, como se fosse uma carta que atravessou o oceano, o e-mail chega todo amassado, quase aberto. E as palavras são doces e o café está quente na caneca e os passarinhos cantam. O nó se vai e você sorri de amor, simples assim. Amor desses puros, de faz de conta, de casamento atrás da porta, de beijo de mentirinha. De repente, você, dentro do seu vestido amarelo comprido demais porque tem que servir até o fim do ano, encontra o menino que usa o sapato dois números maior porque tem que durar até o próximo aniversário. E vocês se entendem e dão as mãos e riem baixinho, porque sabem que são da mesma turma. Então você esquece que tem que voltar cedo pra casa, que não pode subir na árvore com ele porque as mãos vão ficar com calos e sua mãe não vai gostar. E você sobe, e você passeia pelos parágrafos-galhos, em uma manhã bem bonita de outono. E, lá de cima, no ramo mais alto, as coisas se desamarram de uma vez e você olha para o alto e vê o céu bem azul, respira fundo e acha bom. E não cai. Porque, ali, te segurando, existem umas palavras nada duplas, uma mão de verdade que te acalma se você ficar com medo de cair.

E acontece de você ficar com uma vontade doida de descobrir no que é que isso vai dar, se o menino vai mesmo fugir com a vizinha que usa as roupas do tamanho certo. Mas, o mais legal de quando as coisas estão nesse desamarramento original, quando as palavras voltam dobradas para outro envelope com uma resposta em papel de caderno, é que elas são imprevisíveis. Ainda dá tempo de rir, esperar as borboletas saírem do casulo e se assustar com a joaninha que pousa na blusa. Por enquanto, a vizinha dorme e é bonita, e você acha tudo muito simples. E se lembra de uma vez que ouviu falar que amor pode ser assim: bom. Como o cheiro que sobe dos jasmins à noite. E, além disso, as janelas estão abertas e o coração quer aprender a cantar.