vezenquando

Monday, October 22, 2007

Das coisas que demoram um mês para aprender...

...na França:

- Tomar um desolée e achar normal
- Fazer o pedido certo no Quick, com catchup, coca-cola sem pedras de gelo e batata frita rústica no tamanho certo (nível 5 de francês prá falar tudo isso)
- Achar bom morar no mirante da cidade e subir 300 degraus sem ficar (muito) esbaforida
- Parar de fazer a conversão euro-real porque quem converte não se diverte!
- Ver um arco-íris inteiro, as sete cores, inclusive o anil, no céu azul de Lyon
- Levar sacola na bolsa e parar de pagar saco plástico no mercado
- Falar tudo, bem brava, pros franceses desmontarem aquela cara de paisagem que serve de resposta prá tudo
- Bufar à francesa só prá dizer que sou estrangeira mas tô por dentro
- Diferenciar o rio Saône do rio Rhône
- Escrever em teclado francês (nível 10 de coordenação motora e memória recente)
- Comprar rosa amarela na banquinha e achar que, sim, a vida é bela, o amor é lindo e felicidade até existe

Sunday, October 21, 2007

Meu novo autor favorito

"Dans cette vie que vou apparaît quelquefois comme un grand terrain vague sans poteau indicateur, au milieu de toutes les lignes de fuite et les horizons perdus on aimerait trouver des points de repère, dresser une sorte de cadastre pour n'avoir plus l'impression de naviguer au hasard. Alors, on tisse des liens, on essaie de rendre plus stables des rencontres hasardeuses."

Patrick Modiano

Vai pros top 5 de melhores escritores de livro de cabeceira. Junto com o Petit Prince, mas no original, humpf!

Thursday, October 04, 2007

Ao som de Sonata ao Luar

Nunca tinha visto um piano de perto. Todo marrom e grande, impossivel. A professora sorriu, abrindo a tampa. Susto, susto, medo, medo, fascinio, confusao, tudo junto nos olhos da menina de oito anos. 'Toca.' Ela engoliu o medo, arrumou-se no banquinho e a primeira tecla saiu esquisita, apavorada. Em um mes as teclas se juntaram e viraram acordes, mais meses e mais acordes depois, musica.


Esses dias me voltou a cena daquela primeira aula de piano. O susto ao ver as 88 teclas, o pavor de tocar naquele mundo em branco e preto, frio, fechado... fascinante. Aquele instrumento gigantesco, muito maior que eu, que nao sabia como funcionava mas queria dominar... A mistura de alivio e alegria quando a primeira aula acabou.

Lembrei do piano pensando em Lyon. Nao, nao estou morando em Paris. O nome da cidade é Lyon, sul da França, 'une ville de brouillards et de marchands'. Pequena, medieval, com ruas todas iguais, dois rios diferentes, escadas e mais escadas. Calma, provinciana, bonita, até. Parece muito Curitiba, um grande Largo da Ordem em paralelepipedo.

Mas é assustadora. Como uma primeira aula de piano. É um mundo com um codigo que nao domino. Um mundo que da vontade de fugir correndo. Para Paris. Que é grande, onde é facil ser anonima. Um milhao de oportunidades claras. Porque ainda nao vi de perto. Lyon nao. Lyon é o piano na minha frente. Os franceses sao um piano. Ainda nao sei qual é a tecla certa para que a musica comece. Tudo ainda sai meio apavorado, incerto. Queria tocar cançoes, mas nao sei onde fica o do, os bemois e sustenidos. Olho para a cidade com curiosidade e medo, com vontade de que a partitura fosse facilitada pra eu sair tocando.

Mas eu sei que nao me adiantam musicas para crianças. Sei que nao vou sossegar enquanto nao dominar as teclas do jeito mais dificil. No allegro fortissimo. Porque depois, quando fechar o olhos, vou saber que a musica compensa.

Quero crer que Lyon é mesmo parecida com Curitiba. Que as pessoas sao assim, lindas, frias, blazes e impossiveis so à primeira vista. Depois, tornam-se confiaveis e doces. Afinal, tenho amigos para a vida toda que vieram de la. Eu vim de la. Do meio dos curitibanos impossiveis. Do meio da dificuldade quase intransponivel que é a cidade.

Ontem descobri o que significam 'brouillards'. Cerraçao. Melancolia. 'Lyon noir'. É Beethoven, meu preferido. Chopin, o mais romantico. Os mais dificeis. Os que nao se doam à primeira vista. Os que terminan no ultimo acorde com um misto de alivio e alegria. Os que parecem muito comigo, enfim.